A Cama

Imagem by Serge Marsh.

Cama, lugar sagrado,
onde nossas almas se entrelaçam,
onde nossos corpos dançam...
onde tu és só meu.
Onde rezo contigo palavras de amor,
quentes, inebriantes.
Ardentes.
Macia e suavemente os lábios se tocam,
aquecem.
As mãos que percorrem o corpo,
incendeiam.
Entre a troca de olhares,
acende-se a paixão,
tatuas em mim o prazer onde vestes com a tua nudez,
meu corpo no teu em êxtase,
deixas em mim uma onda de arrepios e devaneios.
Com mestria conduzes-me.
Numa louca vontade de mim...
Possuis-me.
Amor descontrolado,
na maior plenitude do prazer.
Amamo-nos durante horas,
foi mágico...
Especial,
verdadeiro.
Anoiteceu,
com a noite partiste...
Hoje estou na saudade,
pois tu és ...
O brilho dos meus olhos,
o desejo tatuado na minha pele,
onde marcaste o prazer e o perfume do teu corpo.

Espírito Cintilante

Tão alva a cal

Imagem by Maria Petrova


Enfuna teus seios
Rapariga da manhã
Que passas à minha porta
Elevando o ar e o olhar.

Leve é o branco da blusa
E tão alva a cal do olhar.
Que não sei se não será pecado
Deitar-te sobre o altar.


(*)Joaquim MONTEIRO

Adeus!

Imagem by Dialektus

Adeus!
(Excerto)

"As coisas que morrem jamais ressuscitam,
as coisas que morrem não voltam jamais.
Quebram-se os vasos e o vidro que resta
é pó para sempre e por sempre será!

Quando os botões despencam dos ramos
duas vezes seguidas não florescerão…
As flores mutiladas pelo vento ímpio
se esvaem para sempre, jamais voltarão!

Os dias acabados, os dias perdidos,
os dias inertes não mais tornarão!
Que tristes as horas que se debulharam
sob os ásperos golpes da solidão(...)"


Alfonsina Storni

NAMORO

Imagem by Karina e Rodrigo


Como sentar-me a teu lado e nada dizer.
Esperar que o silêncio amadureça os lábios
E as mãos sejam palavras com ouvidos
E os olhos falem o tudo que houver para dizer.

Assim sentados de mãos entrelaçadas,
Adensando o olhar até as sombras inclinarem as árvores
E dizer que o peito alberga todo o céu do palato.
Sentir até que ponto a treva se faz luz
E nos teus olhos decifrar todo o luzeiro. No instante
Em que o olhar se fecha ao interior da luz.

Sentir que entre as roupas há um calor que nos sufoca.
Um mar de lava correndo onde o tremor abre fendas.
E por incrível que pareça, um mar de espigas nasce.
E são papoilas os lábios onde o pão amadurece
E grita de fome extasiada a boca.

Murmúrios, beijos e corpos se deitam na mesa do amor,
Degustando o mel que escorre pela comissura dos lábios,
Num esvoaçar de abelhas pela corola do desejo,
Sugando o pólen em cada poro descoberto.


Joaquim Monteiro
2013-02-26

"Partiu o Dia"

Imagem by Sonie Marie

"Partiu o dia, e tudo, nele, o que é doçura!

Doces lábios e voz, mão e seio macio,
Morno alento, enlevado, encantador cicio,
Talhe perfeito, olhar de luz, langue cintura!
Da flor e seus botões as graças não diviso!
A visão da beleza ao meu olhar perdida,
A forma da beleza de meus braços ida,
Idas voz e calor, a alvura e o paraíso…
Tudo se esvaneceu ao fim do entardecer,
Quando o fusco dia santo, ou antes noite santa
Do amor de olente cortinado a trama adianta
Da escuridão, para ocultar todo o prazer:

Mas li o missal do Amor e dormirei portanto,
Que vê o Amor como jejuo e rezo tanto."


(*) John Keats